domingo, 6 de novembro de 2011

Netnografia ou Etnografia virtual – o que é isso afinal?

Com o surgimento e crescimento das comunidades virtuais, buscou-se o uso e aplicação de metodologias de pesquisa qualitativas, que pudessem contribuir para o entendimento e análise dos fenômenos presentes nestes grupos, como adaptações da etnografia.

Metodologia originária da antropologia, intimamente relacionada com o conceito de cultura, a etnografia, segundo Goetz e Lecompte (1988), é uma reconstrução analítica de cenários e grupos culturais, suas crenças, práticas, artefatos e conhecimentos compartilhados.

Fazer uma pesquisa etnográfica pressupõe, preferivelmente, uma observação engajada, direta, particular, participante, crítica, detalhada e profunda para a coleta dos fenômenos que representam a concepção de mundo dos participantes do grupo. Para tanto, é imprescindível nos despirmos dos nossos a prioris e pré-conceitos. O etnógrafo é um investigador de campo, que para sua pesquisa, coleta referências de todos os aspectos que possam ser analisados e é também um dedicado especialista que observa e descreve, analisa e reconstitui culturas.

Para Rousseau (1783 apud Lévi-Strauss, 2007) “quando se quer estudar os homens, é preciso olhar para perto de si; mas, para estudar o homem, é preciso aprender a vista para longe; é primeiro observar as diferenças para descobrir as propriedades.”

A observação direta e participativa, dentro da comunidade, permite ao etnógrafo desenvolver uma percepção acurada e extremamente sensível às variações comportamentais nas relações entre os membros de comunidades digitais. (LEMOS, 2010, p.227).

O ciberespaço tornou-se, com o aumento de usuários, um lugar privilegiado para a pesquisa nas áreas humanas, segundo Hine (2005).

Nós podemos sugerir, então, que uma troca metodológica, a requisição do contexto on-line como um site de campo etnográfico foi crucial no estabelecimento do status das comunicações de Internet como cultura. Enquanto experimentos psicológicos demonstraram sua opacidade, métodos etnográficos foram capazes de demonstrar sua riqueza cultural. É possível ir mais longe e sugerir que nosso conhecimento da Internet como um contexto cultural está intrinsecamente ligado com a aplicação da etnografia. O método e o fenômeno definem o outro em um relacionamento de mútua dependência. O contexto on-line é definido como um contexto cultural pela demonstração de que a etnografia pode ser aplicada a ele. Se nós podemos estar confiantes de que a etnografia pode ser aplicada com sucesso em contextos on-line então nós podemos ficar seguros de que estes são, realmente, contextos culturais, uma vez que a etnografia é um método para entender a cultura. (HINE, 2005, p.8).

O termo Netnografia foi inaugurado por Robert V. Koninets na década de 1980, ressignificando uma abordagem da Etnografia, que pode se estender também aos territórios-rede, pois se constitui como comunidades organizadas virtualmente.

Assim, a partir de um determinado entendimento inicial, observamos a netnografia como um dos métodos qualitativos que amplia o leque epistemológico dos estudos em comunicação e cibercultura. (AMARAL, NATAL & VIANA, 2008, p.35)

AMARAL; NATAL, Geórgia; VIANA, Luciana. Netnografia como aponte metodológico da pesquisa em comunicação digital  e cibercultura. In: Revista Famecos nº20, dezembro de 2008.
Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/viewFile/ 4829/3687 Acesso em: 14/07/2011
GOETZ, J. P. e LECOMPTE, M. Etnografia y Diseño Cualitativo en Investigación Educativa. Madri: Morata, 1988.
HINE, C.. Virtual Methods and the Sociology of Cyber-Social-Scientific Knowledge. In: HINE, Christine (Org.).Virtual Methods. Issues in Social Research on the Internet. Oxford: Berg, 2005.
LEMOS, R.. Qotd, por @umairh: a inteligência coletiva no Twitter. Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica ISSN 1982-2553, América do Norte, 10, jul. 2010. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/2507/2207> Acesso em: 14/07/2011
LÉVY-STRAUSS, Claude.  O pensamento selvagem.  7.ed. São Paulo: Papirus, 2007.

2 comentários:

  1. Muito interessante saber que a pesquisa qualitativa também se adequou a realidade virtual.
    Fiquei curiosa para saber como foi feito a adequação de uma pesquisa, anteriormente aplicada in loco, que atualmente é aplicada virtualmente.

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  2. Assim como o colega acima, também achei muito bacana essa adaptação. Afinal de contas, o mundo exige cada vez mais essa atualização das metodologias.

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